Crítica – Prometheus

Na mitologia grega, Prometeu foi o responsável pela criação do homem,
depois que seu irmão – inicialmente encarregado da função – esgotou os seus
recursos ao criar os animais. Prometeu, supostamente, roubou o fogo de Zeus e o
deu aos humanos, concedendo-os assim a capacidade de pensar e raciocinar, o que
os tornou a espécie mais evoluída de todas. No cinema, Prometheus é o nome – mais do que apropriado – da nave que
transporta um grupo de cientistas em busca do possível criador da humanidade.
Concebido como um prelúdio de Alien – O
8º Passageiro,
clássico da ficção científica dirigido por Ridley Scott, o
projeto acabou evoluindo e tomando um rumo próprio – o que não significa que
não é preciso ter conhecimento prévio da série para apreciar o filme.
Iniciando a projeção com a imagem de um estranho ser que se sacrifica
para dar início à evolução da espécie, a trama mostra – muitos anos depois – o
casal de arqueólogos
Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) encontrando umas pinturas nas cavernas da Ilha de Skye, no norte da Escócia. Tais pinturas apresentam
uma constelação que se repete em diversas outras gravuras de
diferentes povos em diferentes épocas. Acreditando se tratar de um convite para
que a humanidade conheça os seus engenheiros, como são chamados aqui, as
estrelas são mapeadas e uma expedição é montada para alcançar esse objetivo,
sob o comando de
Meredith Vickers (Charlize Theron) e supervisão do androide David (Michael
Fassbender)
.
Procurando fazer uma ficção científica como a muito não se fazia, Ridley
Scott (que retorna ao universo concebido por ele 30 anos antes) apresenta uma
proposta interessantíssima e rara no gênero contemporâneo: a busca pela nossa
origem. Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?  São as perguntas que motivam os personagens e
também a nossa curiosidade como ser humano. E enquanto se foca nas perguntas
(até a metade da projeção), Scott consegue criar uma narrativa empolgante, levantando
questionamentos e mantendo a atenção do espectador. Infelizmente o cineasta não soube desenvolver nem um terço do
potencial que sua proposta trazia, se preocupando mais em estabelecer uma nova
franquia (algo que ele mesmo já se mostrou disposto a fazer) do que em manter uma
história concisa (vide observação 1, ao final do texto).
Mas se o conteúdo é raso, o mesmo não pode ser dito da forma. O design
de produção de Arthur Max (Gladiador)
remete bastante à arte de Alien,
porém inova em diversos aspectos, principalmente o tecnológico; enquanto a
direção de fotografia de Dariusz Wolski (Piratas
do Caribe
) cria um clima sombrio e angustiante, com um belo uso da
tecnologia do 3D. E por mais que os personagens não sejam bem desenvolvidos no roteiro de 
Jon Spaihts e Damon Lindelof (A Hora da Escuridão e Lost, respectivamente), os
atores estão muito bem em seus papéis.
Noomi Rapace encarna uma nova Tenente
Ripley com um instinto de sobrevivência impressionante, enquanto Charlize
Theron abandona a histeria vista em Branca de Neve e o Caçador e entrega aqui
uma atuação contida e bastante minuciosa (vide observação 2). Enquanto isso,
Michael Fassbender que faz de seu androide David,
curiosamente, o personagem que mais demonstra emoções durante toda a projeção; e
se torna, sem dúvidas, o ponto alto do filme.
Caso tivesse levado a fundo as questões apresentadas, Prometheus teria
potencial para se tornar um novo clássico da ficção científica (talvez até no
patamar de obras como 2001 – Uma Odisseia
no Espa
ço e Solaris). Entretanto,
no momento, ele vai ter que se contentar em ser o terceiro melhor longa da
franquia, o que não quer dizer muita coisa.
Atenção, as observações abaixo contém spoilers. Só leia se já tiver assistido
ao filme.
Obs: É um tanto frustrante que se construa uma
narrativa sobre personagens em busca de respostas e estas respostas nunca cheguem.
Seria comum que, nesse conceito, a busca em si – e consequente evolução do
personagem – fosse suficiente para satisfazer o público e manter os mistérios.
Mas esse não é o caso aqui. Os personagens não evoluem e não aprendem nada com
a jornada e o filme fosse de fato apenas um prelúdio do longa de 1979 não teria
grandes problemas, já que na lógica, as questões seriam respondidas no filme
que o precedeu (ou sucedeu, cronologicamente falando). Porém na sua tentativa
de estabelecer um novo universo, Prometheus acaba criando mais problemas do que
soluções.
Obs 2: É interessante notar
como a personagem
Meredith Vickers de Charlize Theron nutre um
sentimento de inveja tão grande por Michael, por este ganhar a admiração de seu
pai (Guy Pearce), que ela se porta exatamente como o androide – possivelmente
numa tentativa de ganhar atenção também. Sua dedicação a ser parecida com David
é tão grande – seja nas roupas, no cabelo, ou jeito de andar – que os
tripulantes da nave chegam a se questionar se ela também é um robô.


(idem – 2012 – EUA – 124 min.)
Direção: Ridley
Scott
Roteiro: Jon Spaihts
e Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace,
Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba, Logan Marshall-Green, Guy
Pearce e Patrick Wilson.

Nota:(Bom) por Daniel Medeiros