PONTO FINAL

(idem – Brasil – 2011)

Direção: Marcelo Taranto
Roteiro: Francisco Azevedo e Marcelo Taranto
Elenco: Roberto Bomtempo, Hermila Guedes, Othon Bastos, Dedina Bernardelli, Silvio Guindane, Julia Bernat.
Antes de mais nada devo dizer que, particularmente, sou contra críticas ou resenhas que entregam informações demais a respeito do objeto de análise, comprometendo assim a apreciação do leitor que ainda não assistiu ao filme em questão. Por isso, sempre prezei por preservar tais informações, não revelando nenhum spoiler (sem pelo menos um aviso prévio) e, principalmente, nunca contando o desfecho e estragando o final. Entretanto, ao escrever sobre Ponto Final – longa de Marcelo Taranto que assisti no Festival de Gramado desse ano – tornou-se impossível (pelo menos pra mim) estruturar o texto de outra forma. Sou obrigado então a abrir aqui uma exceção à minha própria regra e deixar aqui o aviso: caso você ainda não tenha assistido o filme e não queira estragar nenhuma surpresa, não siga adiante com a leitura.
Para os que continuam aqui, vamos à história: Na trama, Davi (Roberto Bomtempo) é um pai de família que perdeu a filha Helena (Julia Bernat) recentemente, vitima de uma bala perdida. Desde então, ele ficou obcecado pelo local do assassinato, passando horas sentado na calçada onde o corpo da menina antes deitava sem vida. Afastando-se da esposa (Dedina Bernardelli), com quem já carregava um casamento em crise, o atormentado homem entra num ônibus e conhece lá uma misteriosa mulher (Hermila Guedes), com quem inicia uma discussão filosófica sobre vida, morte, amor, etc.
Contando com uma narrativa totalmente entrecortada, com idas e vindas no tempo, inserts e fades; Ponto Final, inicialmente, abre bastante espaço para interpretações: o ônibus parado em uma enorme plataforma de metal, a mulher vestida toda de branco; Davi vestido de preto; o motorista que parece saber tudo sobre a tragédia vivida por ele; o medo de embarcar no ônibus e “seguir em frente”. Tudo isso me levou a crer que aquilo se tratava de uma experiência sobrenatural, um pós-morte; e que aquelas pessoas se encontravam numa espécie de limbo – pensamento esse auxiliado por detalhes como as luzes vermelhas na parte de trás do ônibus (que remetem diretamente ao inferno); o jogo de luz, sombras e neblinas que cria uma ambientação lúdica; e os próprios diálogos, principalmente aqueles que focam no tema “morte”.
Sendo assim, confesso que fiquei bastante decepcionado ao final (mais uma vez reforço aqui o aviso de spoiler à frente) quando vi que tudo aquilo não passava de um sonho. Em meio a tantas possibilidades propostas pelo roteiro, a impressão que fica é que o filme optou pelo caminho mais fácil, e não necessariamente o melhor. Esse, porém, não é seu único defeito. Contando com péssimos diálogos e extensos (e repetitivos) monólogos, o longa torna-se confuso e cansativo; algo auxiliado pela falha direção de Taranto, que, mostrando-se um péssimo diretor de atores, não consegue arrancar uma atuação digna de todo o elenco, visivelmente desconfortáveis com suas falas excessivamente teatrais. Não desenvolvendo bem seus personagens, o cineasta limita-se a criar uma caricatura superficial deles mesmos: o motorista só aconselha, o cobrador só reclama, a esposa só chora, e Davi e a mulher do ônibus, eles só falam. E como falam.
Vale destacar – até pra não ficar só falando mal – os excepcionais trabalhos de direção de fotografia (feita por Antônio Luiz Mendes), acerta ao criar toda a ambientação do sonho, e caprichando principalmente nos belíssimos planos em contraluz; e de direção de arte (de Alexandre Murucci) – na concepção de ambientes grandiosos, totalmente construídos com metal. Ainda assim, é senso comum que, se os aspectos técnicos se sobrepõem ao filme em si, é porque algo nele não funcionou direito. E isso, como você pode ler acima, é mais do que verdade.

Nota:(Ruim) por Daniel Medeiros


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