A GAROTA DA CAPA VERMELHA

(Red Riding Hood – 2011 – EUA)
Direção: Catherine Hardwicke
Roteiro: David Leslie Johnson
Elenco: Amanda Seyfried, Shiloh Fernandez, Max Irons, Gary Oldman, Billy Burke, Virginia Madsen, Lukas Haas, Julie Christie.

O sucesso da saga Crepúsculo nos cinemas, seguido pelos bons números de séries como Vampire Daries, mostraram aos estúdios que uma nova mina de ouro havia sido descoberta: os romances/suspenses/fantasia. Sendo assim, era questão de tempo até que uma nova história de amor/fantasia aportasse nas telas dos cinemas. A Garota da Capa Vermelha, reimaginação da clássica história de Chapeuzinho Vermelho, é o mais novo exemplar desse gênero, que chega aos cinemas brasileiros nessa quinta-feira.

Nessa nova versão, Chapeuzinho, ou melhor, Valerie (Amanda Seyfried), é uma jovem que vive numa vila afastada, rodeada por uma densa floresta. O lugarejo é amaldiçoado pela presença de um terrível lobo, que ataca nas noites de lua cheia. A segurança do local é feita através de um acordo mútuo entre os moradores e a besta, acordo esse que envolve o sacrifício dos melhores animais do local. Porém o pacto é quebrado quando uma jovem, irmã da protagonista, aparece morta. É então que o famoso e temível padre Solomon (Gary Oldman) é chamado para matar a criatura. Ao mesmo tempo, a garota tem que abrir mão do seu amor por Peter (Shiloh Fernandez), devido a um casamento já arranjado pela sua mãe (Virginia Madsen), com Henry (Max Irons). Dividida entre os dois homens, ela ainda tem que enfrentar os perigosos ataques do lobisomem, que parece apresentar uma estranha fixação pela moça, além do medo e da desconfiança de todos.

E quem seria melhor para dar início a uma possível saga de amor impossível do que a própria diretora de Crepúsculo: Catherine Hardwicke. Sabendo do público alvo da sua produção, a diretora não poupa referencias à sua obra anterior, seja nas paisagens montanhosas, nos movimentos de câmera (desnecessários), ou no visual dos personagens: o corte de cabelo moderno e a roupa toda preta de Peter destoam completamente de qualquer filme de época e/ou fantasia já feito. O mesmo pode-se dizer do fato do jovem insistir em usar roupas de manga curta, mesmo vivendo em um lugar castigado por um inverno rigoroso, somente para parecerem mais “cool”.

Partindo de um clima totalmente fantasioso, onde as luzes e cores estão constantemente estouradas, mostrando a floresta negra como um lugar alegre e colorido, o único elemento que aparentemente salvava a trama era o fato do roteiro manter-se fiel à mitologia de um dos meus personagens de terror preferidos. Ao contrário de Crepúsculo, em que os lobisomens se transformam quando ficam nervosos (Hulk, alguém?!) ou mesmo na série Anjos da Noite, onde os lycans aprenderam a se transformarem quando quiserem (não me perguntem como), aqui o lobo humano transforma-se somente nas noites de lua cheia. Isso seria um ponto positivo – ignorando o fato de que, nessa história, a criatura só consegue passar a maldição para outras pessoas uma vez a cada treze anos (?) – o texto consegue estragar isso também ao mostrar o monstro falando. Isso mesmo: o Lobisomem fala!!

Confesso que, depois disso, não consegui mais levar o filme a sério. Sendo assim, ignorei o fato do roteiro ainda inserir uma referencia à história dos três porquinhos; ou de Valerie, em certo momento, visando causar ciúmes em Peter, dança sensualmente com outra garota; ou mesmo que o padre Solomon tenha unhas de prata. Não me importei também com os diálogos extremamente clichês, como “Se você a ama, deixe-a ir”, e com cenas de sexo à luz da fogueira. Tudo isso parecia insignificante perto do licantropo falante.

A Garota da Capa Vermelha troca a inexpressividade de Kristen Stewart pelos olhos grandes lacrimejantes de Amanda Seyfried, que, além das lágrimas, não consegue extrair mais nenhuma emoção de sua personagem. O mesmo pode-se dizer do restante do elenco, como Shiloh “Pattinson” Fernandez que se limita a fazer “cara de mau” serrando os olhos e falando baixo; e, fechando o triângulo amoroso, Max Irons não é capaz de inserir dramaticidade alguma ao seu Henry, ao que até Taylor Lautner conseguiu fazer com o seu Jacob. Porém a maior decepção é ver um ator do calibre de Gary Oldman limitando-se a gritar todas as suas falas. Oldman é incapaz de terminar uma frase sem elevar o tom de voz, o que torna-o irritante.

O resultado disso é um filme que pegou tudo o que Crepúsculo tinha de pior – e, convenhamos, não é pouca coisa – elevando essas características à última potencia, sem ter estrutura para manter-se sozinho – afinal, Crepúsculo já tinha uma legião de fãs antes de sua estréia nos cinemas. Com o lançamento da primeira parte de Amanhecer marcado para o final do ano, esse filme corre o risco de não atingir nem mesmo o seu público alvo, eliminando assim a possibilidade de uma futura franquia. Sinceramente, espero que isso aconteça. Afinal, precisamos mesmo de mais filmes estrelados por lobisomens tagarelas?

Nota: (Ruim) por Daniel Medeiros



Maiores informações sobre o longa você pode encontrar na minha coluna no site Confraria de Cinema.

O Projeto 7 Marte gostaria de agradecer a Espaço Z e o Cinesystem por organizarem a cabine de imprensa onde pudemos assistir ao filme.