A ANTROPÓLOGA

(idem – Brasil – 2010)
Direção: Zeca Nunes Pires
Roteiro: Tânia Lamarca e Sandra Nebelung
Elenco: Larissa Bracher, Rafaela Rocha de Barcelos, Sandra Ouriques, Eduardo
Bolina, Luigi Cutolo, Severo Cruz, Jaqueline Sperandio, Paula Petrella, Ricardo Von
Busse e Pedro Paulo Pitta.

O cinema catarinense, em sua curta filmografia, nunca teve um longa-metragem de grande destaque. Ao contrário da nossa rica – ainda que também pequena – carreira no campo do curta-metragem, os longas daqui mantém sempre a mesma estrutura, mostrando sempre as mesmas características culturais, e tendo, conseqüentemente, resultados semelhantes.

Sendo assim, criou-se, pelo menos aqui em Florianópolis, uma grande expectativa em relação ao lançamento de A Antropóloga, longa-metragem que encontrava-se em processo de finalização a alguns anos. Ainda que também mostrasse as já mencionadas características culturais – pesca, rendeiras, etc – presentes na maioria das produções daqui, o filme de Zeca Pires parecia fazer uso de uma linguagem clássica da região, com direito a lendas locais como bruxas, para contar uma história de suspense, com toques sobrenaturais. Infelizmente, apesar de toda a pretensão, o resultado é bastante semelhante ao que já foi feito por aqui.

Na trama, Malu (Larissa Bracher) é uma antropóloga açoriana que realiza uma pesquisa de campo na Costa da Lagoa. Depois de pouco tempo na ilha, Malu faz amizade com a pequena Carolina (Rafaela Rocha de Barcelos), que sofre de um grave câncer cerebral. Nas suas pesquisas – sobre o poder curativo das ervas da região – Malu conhece também Dona Ritinha, a curandeira do local, que tem uma diferente teoria sobre a enfermidade de Carolina. Segundo ela, são bruxas do mal que estão sugando a alma da criança e causando a sua doença. Em meio a estranhos acontecimentos, Malu passa a questionar seu próprio conhecimento à medida que conhece melhor a mística cultura açoriana.

Criando uma boa ambientação, e um clima de constante tensão, durante os dois primeiros atos, Zeca acerta ao usar as mitologias e “clichês” catarinenses de maneira inteligente e atrativa – incluindo uma boa citação à Franklin Cascaes. Sendo assim, até alguns equívocos narrativos podem ser perdoados, como a insistência em mostrar Malu entrevistando os moradores da região (em um clima documental, similar ao usado em Procuradas, longa anterior do diretor) para sua pesquisa, mesmo que tal pesquisa não acrescente em nada à narrativa; ou mesmo a inserção de personagens “góticos” que, de tão caricatos, que não servem nem como alívio cômico

Porém, se até aqui, os enganos do diretor eram relegados, não se pode dizer o mesmo do desastroso terceiro ato. Infeliz ao tentar concretizar tudo o que até então havia sido sugerido, o diretor cai em soluções ruins e, algumas, ridículas (não vou citar para não estragar nenhuma surpresa). Sendo assim, tudo o que vimos até o momento, é esquecido para dar lugar a um final engraçado, mas não no bom sentido.

Gosto de acreditar que o filme, apesar de todos os seus defeitos, marca o primeiro passo rumo a uma evolução na nossa cinematografia, e, se esse for mesmo o caso, então vale a pena conferir.


Nota: (Razoável) por Daniel Medeiros

O Projeto 7 Marte gostaria de agradecer a PalavraCom e o Cinesystem por organizarem a cabine de imprensa onde pudemos assistir a esse filme.