A REDE SOCIAL

(The Social Network – EUA – 2010)
Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkin, Ben Mezrich (livro)
Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Armie Hammer, Rooney Mara, Max Minghella, Rashida Jones.


O Facebook foi lançado em 4 de Fevereiro de 2004. Inicialmente, a rede era exclusiva para alunos de Harvard e hoje contém mais de 500 milhões de usuários ativos em diversos países do globo. A Rede Social, novo filme de David Fincher (Se7en e Zodíaco) fala da conturbada criação do site, assim como suas implicações legais, e a personalidade excêntrica de seu criador: Mark Zuckerberg.

Mark era um estudante de Harvard que, após o termino de um namoro, cria um site que avalia a beleza das alunas do campus. Tal criação gera alguns transtornos para o jovem, porém também chama a atenção dos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss e de seu sócio Divya Narendra, que tem a idéia de criar uma rede de relacionamentos exclusiva para alunos da universidade. Eles então chamam Zuckerberg para auxiliá-los na criação dessa rede, porém Mark deixa-os de lado e cria sua própria rede social: TheFacebook.

No começo da história, Mark está sendo processado não só pelos gêmeos, de quem ele supostamente roubou a idéia para o site, como também por seu melhor amigo e co-fundador do Facebook, o brasileiro Eduardo Saverin. A partir dos depoimentos dos dois processos é que conhecemos um pouco mais sobre a criação da rede: enquanto Eduardo buscava lucrar em cima do site, Zuckerberg tentava proteger sua criação, evitando desgastá-la (“anúncios são chatos”, diz ele) com o auxílio de Sean Parker, criador do Napster.

Zuckerberg é visto como uma pessoa fria, incapaz de demonstrar qualquer tipo de sentimento a não ser desprezo pelo resto das pessoas. Com suas falas rápidas, que já respondem as próprias perguntas, para evitar uma conversa de verdade com alguém, Mark é um monólogo sarcástico ambulante. Sua expressão apática predomina durante toda a sessão, sendo raros os momentos em que vemos algum resquício de emoção em seu rosto: consigo lembrar de uma leve risada na cena em que ele e Saverin estão no lado de fora do banheiro, excitação antes de conhecer Sean Parker e raiva ao mencionar seu atual poder financeiro para um advogado.

Sendo assim, Jesse Eisenberg (Zumbilândia) surge como uma escolha perfeita para o papel. Dono de uma série de personagens nerds, falastrões e inteligentes, Jesse tem ainda um porte físico e aparência que lembram o próprio Zuckerberg. Em A Rede Social, Mark é personagem extremamente complexo, capaz de falar as coisas mais ofensivas para a namorada (personagem essa criada para o filme) sem se preocupar com a repercussão do que foi dito, ou mesmo sem perceber aquilo como sendo uma ofensa.

Andrew Garfield, que interpreta Eduardo Saverin, é outro destaque do filme. O novo Homem-Aranha demonstra muito carisma, ganhando logo a simpatia do público – a cena em que ele explica o incidente com a galinha é ao mesmo tempo trágica e hilária. Os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss – vividos por Armie Hammer – demonstram um grande senso de moral, muitas vezes deixando a raiva de lado em nome da ética. Fechando o elenco, surge um correto Justin Timberlake como Sean Parker, que mostra que mesmo por trás da fama e conseqüente fortuna gerada através do site, ainda é um garoto mimado e medroso, como na cena em que um personagem diz que ficar perto dele “me faz parecer tão corajoso”.

A já mencionada narrativa em flashbacks é, ao mesmo tempo, o grande trunfo e o grande defeito do filme. Se por um lado contar a historia dessa maneira – através dos personagens relembrando o ocorrido, por meio de seus testemunhos nos dois processos que Zuckerberg está enfrentando – auxilia na imparcialidade da história, afinal não resta dúvidas de que Eduardo é a grande vítima da história e, nesse caso, Sean Parker pode ser visto como o vilão. Essa montagem permite passagens de tempo que evitam mostrar Mark tomando as decisões que tomou, nem mesmo explicam o porquê de cada uma de suas decisões.

Atenção: O que vou falar no parágrafo seguinte pode ser considerado por alguns (como leitor não me incluo nessa lista) como um spoiler, portando caso não queira estragar nenhuma possível surpresa, sugiro que pule para o parágrafo posterior.
Essa estrutura de roteiro, apesar de suas qualidades como as mencionadas acima, peca ao deixar o filme sem um clímax adequado. Todo mundo sabe que Eduardo e os gêmeos Winklevoss vão entrar num processo contra Zuckerberg, então pra que deixar pra mostrar isso somente no final do filme, como se fosse um grande segredo, e não algo que estamos assistindo desde os primeiros 15 minutos de projeção? A impressão que tive é que depois de 130 minutos de película, era necessário apressar o fim do filme, sendo assim Fincher apelou para os letreiros explicativos, algo pouco criativo se compararmos ao restante do filme.

Sou fã confesso do diretor David Fincher. Alguns de seus filmes estão entre os melhores que já assisti, como é o caso do excepcional Clube da Luta. Desde que A Rede Social foi lançado, o longa vem acumulando elogios, bilheteria e prêmios por onde passa, além de 8 indicações para a estatueta dourada. Esse talvez seja o momento da academia prestar o devido reconhecimento para Fincher. Se for esse o caso, e tomara que seja, digo que já não é sem tempo.

Nota: por Daniel Medeiros